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Lactose: novo “veneno” a evitar?

Categoria: Nutrição

Lactose: novo “veneno” a evitar?

INTRODUÇÃO

Embora o glúten pareça ser a “bola da vez” da indústria alimentícia, não é raro encontrar avisos nas embalagens (os chamados “claims” nutricionais) assegurando que o alimento tal ou qual “não contém lactose. Na verdade, esse tipo de aviso é regulamentado por resoluções da diretoria colegiada da ANVISA, a poderosa Agência de Vigilância Sanitária, ligada ao Ministério da Saúde. Esses avisos, na verdade, têm por função indicar a presença de algum componente que deve ser evitado por pessoas com certas restrições alimentares, por exemplo, pessoas que não devem ingerir o aminoácido fenilalanina, ou, como é o nosso caso, pessoas que não devem consumir produtos com lactose.

No caso das pessoas com restrição à fenilalanina, os fenilcetonúricos, esse aminoácido acaba se acumulando no organismo devido ao bloqueio de um caminho bioquímico, por deficiência enzimática. A ingestão desse aminoácido fará com que ele se acumule em certos tecidos, causando danos muito sérios a seus portadores. Trata-se de uma doença genética, pois o traço é herdado dos pais, em um exemplo de herança mendeliana simples de gene recessivo. Pais normais podem ter filhos com a deficiência enzimática (caso sejam heterozigotos). Trata-se, indiscutivelmente de uma doença genética.

No caso da intolerância à lactose a situação é um pouco diversa. Os mamíferos desenvolveram um mecanismo muito interessante que fornece alimento aos filhotess, na forma de leite materno (mesmo se nem todos os mamíferos tenham mamas, e não me refiro apenas aos machos). Isso permitiu, do ponto de vista evolutivo, tornar a época da procriação independente da época de alta disponibilidade de alimento no ambiente. Enquanto as aves perdem suas ninhadas se não houver alimento disponível próximo a seus ninhos quando com filhotes, o mesmo não ocorre com os mamíferos. Ao estocar gordura, as fêmeas podem produzir grande quantidade de leite mesmo sem se alimentar. Isso aumentou a eficiência reprodutiva dos mamíferos.

COMPOSIÇÃO DO LEITE MATERNO

As demandas energéticas de filhotes em crescimento é muito grande e a digestão de gorduras, o grupo de alimentos mais energético de nossa dieta, é bastante demorado. Isso significa que, ao ingerir alimento, o filhote deve ter um aporte de energia o mais rápido possível e as gorduras não têm essa prontidão necessária para animais que devem fugir de predadores, em especial nessa fase da vida, mesmo se sua digestão, em especial em recém-nascidos, não se inicie no intestino, como afirmam muitos livros didáticos e vestibulares. Os humanos produzem boa quantidade de lipases (a enzima que digere lipídios) na boca (lipase lingual) e estômago (lipase gástrica), ativas no ambiente estomacal. Sua acidez inibe as enzimas que digerem amido, mas não as específicas para as gorduras, resposnsáveis pela digestão de cerca de 10% das gorduras antes que cheguem ao intestino no adulto e proção muito maior no recém-nascido.

Ora, todos sabemos que o carboidrato mais “popular”, tanto nas células animais como nas vegetais é a glicose. É ela que circula no sangue, e não a lactose ou a sacarose que eventualmente ingerimos. A glicose seria o componente ideal para fornecer um aporte quase imediato de energia da mãe para o filhote. No entanto, nem mesmo as plantas, que produzem glicose pela fotossíntese, ela não transita pelos finos vasos por onde circula a seiva. O açúcar mais encontrado nesses finos vasos é a  a sacarose, um dissacarídeo, ou seja, uma molécula formada pela união de duas moléculas de açúcares simples, no caso a glicose e a frutose. Então, possuir lactose é um “defeito” do leite de todos os mamíferos?

A mal falada lactose, na verdade, teve uma importância crucial no início da evolução dos mamíferos, pois esse dissacarídio, de fórmula C12H22O11, tem propriedades muito especiais. Ele é formado pela união de duas moléculas de açúcares simples, a glicose e uma outra molécula muito parecida, a galactose, ambas de fórmula molecular C6H12O6.  A lactose possui poder adoçante relativamente baixo e sua digestão depende de enzimas produzidas no intestino, a lactase e a glicosilceramidase, localizadas no mesmo polipeptideo, que passou a ser conhecido simplesmente como lactase. A lactose, em última instância, garantiu que os primeiros mamíferos tivessem sucesso evolutivo, aumentando a prolificidade das fêmeas, ou seja, o número de filhos por fêmea dos mamíferos teria sido muito menor, em uma época onde nossos antepassados eram presas relativamente fáceis de dinossauros. Em outras palavras, se os primeiros mamíferos não tivessem acrescentado lactose ao leite materno, provavelmente a espécie humana (e tantas outras) não teria aparecido na Terra. É estranho admitir, mas se o leite materno não contivesse lactose eu não estaria escrevendo este texto. Na segunda parte vou discutir as razões disso. Ok?

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